quinta-feira, 2 de abril de 2009

Mas que juventude é essa, Caetano?

"Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado? São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem?"


Para quem pensa que o nosso grande mestre Caetano Veloso apenas faz música de ótima qualidade e adora dizer que tudo é lindo, precisa ouvir o histórico (e ácido) discurso do baiano no 3° Festival Internacional da Canção, veiculado pela TV Globo em setembro de 1968, onde ele dispara contra a platéia toda a sua indignação com relação ao quadro do país na época, principalmente no que cabe à situação da política e da música. Caetano "rodou a baiana" e lançou fortes críticas à postura dos jovens, comparando-os inclusive com aqueles que invadiram o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e espancaram o elenco da famosa peça Roda Viva, um dos símbolos da resistência à ditadura militar no país. Por fim sobrou para todo mundo, inclusive para o júri, que segundo Caetano, era muito simpático mas era incompetente.

Mas vamos fazer justiça ao Caetano, em dois aspectos: primeiro, o baiano é mesmo o sujeito calmo que todos nós conhecemos, e tal episódio se resume apenas ao festival, como o próprio Caetano lembra durante seu discurso, quando ressalva que "ninguém nunca me ouviu falar assim". Segundo, os jovens nunca foram lá aquilo que se espera deles, nem na época do discurso do Caetano, nem hoje. E olha que os jovens criticados por ele eram aqueles filhos do movimento hippie, que ouviam Beatles e Raul e liam Paulo Coelho (não que ler Paulo Coelho signifique alguma coisa de muito nobre, mas o que os jovens leem hoje?), que se organizavam nas universidades e fundavam partidos políticos, que conspiravam contra a situação política e social do país e que mais tarde saíram às ruas com as caras pintadas em nome da democracia. Se você visse mais de perto a juventude de hoje, Caetano, nem sei o que diria...

"O Problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira!"

"Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender."

Escrevendo este artigo, cujo objetivo é refletir rapidamente sobre a postura atual do jovem brasileiro, me veio à cabeça aquela famosa canção do Renato Russo. Sabe, aquela, Geração Coca Cola? Então, tem um trecho onde o Renato canta assim: Somos os filhos da revolução; somos burgueses sem religião; somos o futuro da nação. Será? Renato pinta o jovem brasileiro, talvez metaforicamente, talvez procurando uma forma de instigá-lo, ou talvez com algum saudosismo, como aquele jovem esteriotipado: revolucionário, que quer mudar o mundo, batalhador, sonhador; um jovem ativo, participante da sociedade e construtor da mesma. Mas será que ele é? É claro, não podemos ser utópicos e pensar no jovem dos filmes norte-americanos, que é perfeito, embora não exista na vida real, mas ainda assim há que se estar atento à realidade da nossa juventude. E a questão é: essa realidade é preocupante! Agir, buscar, assumir a responsabilidade do desenvolvimento social e pessoal, tudo isso hoje em dia é, infelizmente, quando se trata do jovem, utopia sim. O jovem atual é preguiçoso, acomodado e passivo. Não lê, não sabe, não pensa, não melhora, não discute, não faz critica nem pinta o rosto de nada, a não ser da bandeira do time de futebol no final da temporada. O fato é que tudo isso está fora de moda. Isso mesmo! Completamente ultrapassado, demodé, "fora do tom", como disse também Caetano. Somos a geração da internet, do big brother brasil 9 (nove?), do orkut (ou seria OrkUtiii?), do sertanejo universitário, que por fim não passa de um repeteco daquela velha história do apaixonado arrependido (...), onde a dupla pode escolher entre imitar o Zezé di Camargo e Luciano ou imitar o Bruno e Marrone. Geração coca cola! Ou para quem gostar de Cazuza, uma daquelas exceções dentre os jovens do Caetano, numa inversão do significado que Cazuza atribuía: geração do "desbunde"!

"E vocês? Se vocês... se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos!"


"Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada!"



A música, a literatura, a política, a educação, enfim, a cultura brasileira de um modo geral está, mais do que nunca, sucateada pelos jovens. E é sim, Caetano, é essa a juventude que quer (ou pelo menos, que vai) tomar o poder. A juventude que sempre está a espera de quem alguém coloque a casa em ordem, que tome a frente e principalmente as decisões. E eu imagino como seria desagradável à você, Caetano, ícone da música brasileira e símbolo da luta pela democracia no nosso país, se soubesse que a grande maioria dos meus amigos da universidade (isso mesmo, da universidade) nunca sequer ouviram um disco seu. E mesmo que ouvissem! O que diriam de Tropicália, ou Alegria Alegria? Será que saberiam o que foi o Tropicalismo? Talvez para eles seja apenas folia, carnaval. Que seja, que seja alguma coisa! Faça-se o Carnaval. Afinal, o carnaval é lindo!

"Mas que juventude é essa? Que juventude é essa?"


Quem quiser conferir, aqui o discurso do Caetano pode ser encontrado na íntegra! Abraço a todos!




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