terça-feira, 21 de abril de 2009

O retrato de Madonna.


Me lembro como se fosse hoje a primeira vez que a vi. Madonna, assim que foi-me apresentada. Foi um certo choque quando vi sua imagem, achei-a linda e intrigante, sim uma intrigante jovem,sensual, nua, `levemente grávida` e com sua áurea vermelha. Sua áurea vermelha foi o que mais me intrigou. Vermelha de quê ? De sangue ? De paixão ? Eu fico com a paixão, pois é paixão que passei a sentir por Ela. Minha paixão é tamanha que quis Ela somente pra mim. Decidi que iria reproduzi-la, me dedicaria arduamente até ter Madonna somente minha, para sempre, nua no meu quarto, uma verdadeira musa com toda sensualidade permitida a uma musa e com sua áurea. Ah, a áurea vermelha de paixão. Minha paixão.

Adorava admirá-la, conversava com Ela, que sempre mantinha sua expressão serena. Às vezes parecia que ia sorrir, ou então abrir os olhos, uma vez achei que fosse bocejar, mas no fim quem bocejou fui eu. Não adiantava, Ela sempre se mantinha delicadamente intacta.

Certo dia porém, quanto fui admirá-la, Ela havia mudado. Olhei novamente, não conseguia acreditar no que via, sua áurea estava amarela e radiante. Sua nudez havia desaparecido sobre um manto azul, sua juventude e sua expressão serena tinham desaparecido e dado lugar a imagem de uma senhora com uma expressão séria. Eu não queria aquela senhora de áurea amarela. Era uma senhora com uma expressão de alguém que espera para ser adorada. Não queria adorar-lá. Queria a minha Madonna de volta, com sua juventude e sua áurea ardente.

Madonna não voltava por mais que minhas lágrimas implorassem. Aquela senhora insistia em não ir embora e ainda cismava em me olhar com ternura, complacência, como quem mal sabe que é o próprio teor da minha ângustia. Não podia ser dessa forma, eu amava Madonna, adorava seu corpo, seus seios a mostra, sua expressão, tinha que fazê-la voltar pra mim. Peguei desesperadamente meus pincéis, minha tinta vermelha e tentei modificar sua áurea, mas por mais determinado que eu estivesse, não adiantava aquela áurea amarela não desaparecia . Foi então que num impulso senti uma dor lancinante, logo depois parei de sentir qualquer coisa que não fosse a vontade de rever minha amada. Ah, minha amada cuja áurea era de uma cor viva e intensa, uma cor de sangue, um sangue que jorrava do meu pulso esquerdo, com um pincel fiz com que aquela áurea voltasse a ser vermelha e que aquela teimosa senhora de manto azul voltasse a ser Ela, minha jovem nua e provocante, Madonna. Pintei euforicamente enquanto a tinta escorria no meu braço e gotejava no chão. Pintava cada vez mais enquanto notava que a imagem de minha adorada Madonna voltava. Quando enfim consegui tê-la de volta, completamente nua e vermelha, já estava tonto, minha vista escureceu e cai sobre Ela. Caimos, nós dois no chão, sobre um sangue vermelho de paixão.

Não podia enxergar mais nada mas pude sentir que estava com a cabeça sobre seus seios, pude sentir sua pele, seus cabelos, seu cheiro. Ah sim, pude sentir seu cheiro. Sentia que ela me segurava em seus braços, me acariciava, e então uma última imagem veio a mim, pude enfim ver seus lindos olhos negros, uma lágrima jorrava deles. Senti seus olhos fixados nos meus, nunca havia sentido tão intensamente a vida. E assim tão rápido a tive, tão rápido seus olhos estiveram em mim, até que Ela os fechou. Para sempre.

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Mas que juventude é essa, Caetano?

"Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado? São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem?"


Para quem pensa que o nosso grande mestre Caetano Veloso apenas faz música de ótima qualidade e adora dizer que tudo é lindo, precisa ouvir o histórico (e ácido) discurso do baiano no 3° Festival Internacional da Canção, veiculado pela TV Globo em setembro de 1968, onde ele dispara contra a platéia toda a sua indignação com relação ao quadro do país na época, principalmente no que cabe à situação da política e da música. Caetano "rodou a baiana" e lançou fortes críticas à postura dos jovens, comparando-os inclusive com aqueles que invadiram o Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e espancaram o elenco da famosa peça Roda Viva, um dos símbolos da resistência à ditadura militar no país. Por fim sobrou para todo mundo, inclusive para o júri, que segundo Caetano, era muito simpático mas era incompetente.

Mas vamos fazer justiça ao Caetano, em dois aspectos: primeiro, o baiano é mesmo o sujeito calmo que todos nós conhecemos, e tal episódio se resume apenas ao festival, como o próprio Caetano lembra durante seu discurso, quando ressalva que "ninguém nunca me ouviu falar assim". Segundo, os jovens nunca foram lá aquilo que se espera deles, nem na época do discurso do Caetano, nem hoje. E olha que os jovens criticados por ele eram aqueles filhos do movimento hippie, que ouviam Beatles e Raul e liam Paulo Coelho (não que ler Paulo Coelho signifique alguma coisa de muito nobre, mas o que os jovens leem hoje?), que se organizavam nas universidades e fundavam partidos políticos, que conspiravam contra a situação política e social do país e que mais tarde saíram às ruas com as caras pintadas em nome da democracia. Se você visse mais de perto a juventude de hoje, Caetano, nem sei o que diria...

"O Problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira!"

"Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender."

Escrevendo este artigo, cujo objetivo é refletir rapidamente sobre a postura atual do jovem brasileiro, me veio à cabeça aquela famosa canção do Renato Russo. Sabe, aquela, Geração Coca Cola? Então, tem um trecho onde o Renato canta assim: Somos os filhos da revolução; somos burgueses sem religião; somos o futuro da nação. Será? Renato pinta o jovem brasileiro, talvez metaforicamente, talvez procurando uma forma de instigá-lo, ou talvez com algum saudosismo, como aquele jovem esteriotipado: revolucionário, que quer mudar o mundo, batalhador, sonhador; um jovem ativo, participante da sociedade e construtor da mesma. Mas será que ele é? É claro, não podemos ser utópicos e pensar no jovem dos filmes norte-americanos, que é perfeito, embora não exista na vida real, mas ainda assim há que se estar atento à realidade da nossa juventude. E a questão é: essa realidade é preocupante! Agir, buscar, assumir a responsabilidade do desenvolvimento social e pessoal, tudo isso hoje em dia é, infelizmente, quando se trata do jovem, utopia sim. O jovem atual é preguiçoso, acomodado e passivo. Não lê, não sabe, não pensa, não melhora, não discute, não faz critica nem pinta o rosto de nada, a não ser da bandeira do time de futebol no final da temporada. O fato é que tudo isso está fora de moda. Isso mesmo! Completamente ultrapassado, demodé, "fora do tom", como disse também Caetano. Somos a geração da internet, do big brother brasil 9 (nove?), do orkut (ou seria OrkUtiii?), do sertanejo universitário, que por fim não passa de um repeteco daquela velha história do apaixonado arrependido (...), onde a dupla pode escolher entre imitar o Zezé di Camargo e Luciano ou imitar o Bruno e Marrone. Geração coca cola! Ou para quem gostar de Cazuza, uma daquelas exceções dentre os jovens do Caetano, numa inversão do significado que Cazuza atribuía: geração do "desbunde"!

"E vocês? Se vocês... se vocês em política forem como são em estética, estamos feitos!"


"Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada!"



A música, a literatura, a política, a educação, enfim, a cultura brasileira de um modo geral está, mais do que nunca, sucateada pelos jovens. E é sim, Caetano, é essa a juventude que quer (ou pelo menos, que vai) tomar o poder. A juventude que sempre está a espera de quem alguém coloque a casa em ordem, que tome a frente e principalmente as decisões. E eu imagino como seria desagradável à você, Caetano, ícone da música brasileira e símbolo da luta pela democracia no nosso país, se soubesse que a grande maioria dos meus amigos da universidade (isso mesmo, da universidade) nunca sequer ouviram um disco seu. E mesmo que ouvissem! O que diriam de Tropicália, ou Alegria Alegria? Será que saberiam o que foi o Tropicalismo? Talvez para eles seja apenas folia, carnaval. Que seja, que seja alguma coisa! Faça-se o Carnaval. Afinal, o carnaval é lindo!

"Mas que juventude é essa? Que juventude é essa?"


Quem quiser conferir, aqui o discurso do Caetano pode ser encontrado na íntegra! Abraço a todos!




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